terça-feira, 18 de outubro de 2011

Desabafo do Jô Soares Contra a Globo

Xiiiiiii... por essa eu não esperava.


Confesso que nunca tinha visto este vídeo e sequer tinha lido qualquer artigo sobre este assunto. Fiquei extremamente surpreso com o conteúdo dele.

Depois fui pesquisar a respeito. Pois bem. O vídeo é de 1988, durante a entrega do Troféu Imprensa, na TVS, hoje SBT. Naquela semana Jô Soares havia enviado um artigo para o Jornal do Brasil, onde tinha uma coluna semanal. Já como contratado da TVS, ele resolve abrir a boca e criticar duramente a Rede Globo, seu monopólio, a lista negra contra artistas que deixavam a emissora e principalmente José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni - um dos grandes responsáveis pela Rede Globo da maneira que nós conhecemos.

O vídeo é interessante e traz uma crítica que ainda nos dias atuais é válida, uma vez que o monopólio AINDA existe, seja artisticamente, comercialmente ou em questão de qualidade. É inegável que a Rede Globo é uma gigante... mas uma gigante sem pudor.

Segue o desabafo de Jô Soares em 1988:





Segue a transcrição do discurso:

Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com pendências políticas em desacordo com os ideários não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a consequente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia trabalho.

Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora, sem ter sido mandado embora, corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados.
Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.

Neste ponto, alguém pode achar que estou falando por interesse pessoal. Garanto que não.
Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2, "O Gordo ao vivo", terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus, meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo.

Que as chamadas de "O Gordo ao vivo" não passariam na emissora eu já sabia, desde outubro, pelo próprio 'Boni', que me disse em sua sala quando fui me despedir:
- Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra 'gordo'. - claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo.

Logo, não é por isso que escrevo pela primeira ver sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria. Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro - como acontece em todas as listas negras - que suas participações não seriam aceitas.

É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado, cerceie impunemente o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado.

Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou 'Boni', numa entrevista, de "office-boy de luxo". Nenhum office-boy conseque tanto rancor no coração.


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